A não ser que você tenha se mantido escondido embaixo de uma pedra, em Marte, provavelmente você já se deparou, em redes sociais, com alguma imagem de uma boneca esquisita, de cabeça grande e olhos coloridos, as chamadas Blythes.
Se você sempre teve curiosidade em saber o que são essas bonecas, essa é a oportunidade de descobrir, e se você mora em Recife, poderá inclusive vê-las de perto durante o mês de setembro!
A História
As blythes surgiram na década de 70 e eram produzidas por uma
empresa americana chamada Kenner. Cada boneca tem 28 cm de altura e uma corda
na parte de trás da cabeça, usada para trocar a cor de seus olhos e a posição
do olhar da boneca.
Porém nessa
época as Blythes não alcançaram o sucesso esperado, e só foram comercializadas
durante o ano de 1972. As bonecas só foram vendidas nos Estados Unidos, pela
Kenner e no Japão, produzidas pela Tomy, que hoje em dia são ainda mais raras
que as irmãs americanas.
Foi só no fim
da década de 90, mais precisamente em 1997, que a história da Blythe começou a
mudar. Nesse ano, a produtora de tv e vídeo Gina Garan ganhou uma Blythe Kenner
de uma amiga e começou a usar a boneca como modelo fotográfico, como treino
para melhorar sua técnica fotográfica. Essas fotos deram origem a um livro
chamado This is Blythe, lançado em 2000.
Em 1999, Gina apresentou as Blythes à
sua agente no Japão Junko Wong, que utilizou as bonecas nas vídeos de natal da
rede de lojas parco.
A partir desses dois fatos, as
bonecas alcançaram status de cult e passaram a valer pequenas fortunas.Todo esse burburinho fez com que as
bonecas fossem relançadas, dessa vez pela Takara, a partir de 2001.
Inicialmente, esses lançamentos eram esporádicos mas, ao perceber o interesse
do público, a Takara passou a lançar as bonecas mensalmente, ou seja, todo mês
tem um modelo novo de boneca no mercado, a Neo Blythe (fora a Neo, já foram
produzidas versões mini das bonecas, com 11 cm e ultimamente, junto com a neo,
saem as versões midi das Blythes com 20 cm, além de edições comemorativas do
aniversário de relançamento da boneca).
O HOBBY:
Vocês podem até
achar que colecionar Blythe é como colecionar qualquer boneca, mas olha, não é!
E nem falo isso por ser um hobby caro, o que é… as bonecas são caras, mas você
não pára nas bonecas! Tem roupinhas, sapatos, cenários, customizações e por aí
vai.
Outra coisa que
diferencia os Blytheiros de outros colecionadoras é a paixão por fotografar
suas bonecas. Por isso o guarda roupa, que normalmente segue a personalidade
que você dá à sua boneca, e a quantidade de acessórios (tênis, botas, óculos,
gorros etc). Muitas pessoas inclusive começaram fotografando bonecas e hoje se
profissionalizaram! Pessoas que vivem de vender roupas de boneca também não são
raridade. Começaram fazendo para as suas e hoje tem lojas on line.
As
customizações dariam uma matéria à parte! Também tem quem viva de customizar
bonecas dos outros e algumas são consideradas como pequenas obras de arte. Você
mesmo pode mudar sua boneca, desde cabelo, maquiagem e cor dos olhos, até
esculpir lábios e modificações radicais como caveiras, animais, tem quem
transforme sua boneca em seu personagem preferido, a imaginação é o limite!
Encontro no Parque da Jaqueira, em 2011 (Acervo Pessoal) |
Outra marca importante do Hobby são os encontros… e não falo
apenas dos pequenos encontros dos colecionadores que moram na mesma cidade,
falo em encontros nacionais que ocorrem em vários países, e eles ocorrem até
mesmo aqui no Brasil!
BLYTHECON BRASIL:
Alguns
encontros costumam acontecer durante o ano, em várias cidades, porém também
costumam acontecer grandes encontros anuais em vários países, os chamados
Blythecons.
No Brasil ele
já ocorre há alguns anos, e já foi sediado em São Paulo e em Porto Alegre. Esse
ano foi feita uma votação para escolher onde o encontro seria feito e Recife
foi nomeada a sede de 2015!
A hostess desse
ano é a colecionadora Sandra Helena, que com a ajuda de muitos voluntários está
preparando uma grande festa, agora em setembro, no Shopping Rio Mar e vai ser
uma ótima oportunidade para se conhecer a boneca, pois além da parte destinada
apenas aos colecionadores, o evento vai contar com uma exposição sobre a boneca,
além de um mercadinho de bonequices, que serão abertos ao público.
Fizemos algumas
perguntas à Sandra, que foi muito atenciosa em suas respostas e contou um pouco
sobre como conheceu as bonecas e o que espera do evento.
1. O que mais te atraiu ao universo das Blythes e que te fez começar a
colecionar?
Alguns anos atrás fiz um curso de fotografia criativa e como trabalho de
finalização do curso optei por fotografar bonecas. Para o ensaio fotográfico
que me propus fazer, usei a Barbie.
Nesse mesmo período vi um artigo de um fotógrafo que falava que as Blythes
eram perfeitas para fotografia e busquei mais informações sobre a mesma.Encontrei assim os grupos do Flickr que fotografavam Blythes e me
encantei com as fotos. Elas realmente surpreendiam, tinham vida.
Sai então em busca da primeira Blythe e optei por adquirir uma
customizada pela Sabrina Foggiatto ,da Ichigo Toys. A Blythe tinha os cabelos verdes e
tinha nas costas tatuado um trevo de quatro folhas. Achei convidativo começar
com essa Blythe.Quando recebi a boneca em casa após a compra confesso que achei um
horror aquela cabeça imensa.
Não me motivei a fotografar e continuei fotografando as barbies.Um certo dia precisei viajar a Brasília e resolvi levar a Blythe comigo.
A noite no quarto do hotel comecei a interagir com ela e a partir daí começou a
paixão. Muitas fotos se seguiram e a vontade de ter mais Blythes foi ampliando.
Tenho mais de 80 Blythes na minha coleção. Virei então colecionadora,
motivada inicialmente pelo grupo do Flickr e pela riqueza de bonecas que
encontrava customizadas. Hoje ao observar minha coleção vejo que as minhas
bonecas são peças raras e diferenciadas, pois tenho bonecas customizadas por
brasileiras que não customizam mais, como a Cássia Novaes, que explorava o
universo gótico e a Gô Maia, pioneira no uso de pele negra. Das custons internacionais tenho bonecas customizadas pelo Otto Kinder,
por Japan designer, Jenink, Tiina e Anai.
2. O que diferencia o colecionar de Blythes de outros colecionadores de
bonecas, quais as características principais desse colecionador (faixa etária,
situação financeira por exemplo)?
Todo colecionador tem algumas características similares: o desejo por
adquirir peças raras e diferenciais, pois isso dá ao mesmo o sentimento da
conquista. O que diferencia o colecionador de Blythes de outros colecionadores
de bonecas acredito que seja o fato da Blythe ter uma dinâmica diferenciada na
sua criação, ou seja, as bonecas de outras categorias em sua maioria são
criações idealizadas pelas fábricas a partir de estudos de mercado, isso é
muito evidente nas Barbies.
As blythes no entanto saem da fábrica e são posteriormente redesenhadas
pelos customizadores e artistas que são consumidores e que idealizam novas ideias e projeções a
partir, não do desejo do mercado, mais
da sua própria necessidade de expandir sua arte.
Nesse sentido as Blythes ganham personalidade única e a cada ano novas
criações surgem. A nível de caracterização do perfil do colecionador de Blythes
são pessoas de nível social privilegiado e faixa etária acima dos 25 anos. A
turma com faixa etária abaixo dos 20 anos, são mais brincantes do que
propriamente colecionadores. O
colecionador normalmente está estabilizado financeiramente.
3. O que é o Blythecon e o que é o Blythecon Brasil? O que trouxe o
Blythecon Brasil para Recife?
Se fizermos uma pesquisa sobre um movimento que se deu no Japão
denominado de Cool Japan, encontraremos o fenômeno da Blythe inserido no
mesmo. O Cool Japan perpassa o fenômeno
da cultura criativa. As Blythes por terem características de bonecas fashions,
traduzem esse novo fenômeno no Brasil que tem toda uma cadeia produtiva por
trás da boneca. E não só o Brasil se rendeu as Blythes mas todo o mundo. O BlytheCon ou Blythe Convention é resultado do
fenômeno da expansão das Blythes no mercado. É uma convenção de bonecas Blythes
onde os amantes da boneca podem se
encontrar e interagir, trocar conhecimento, abrindo espaço para compras de
produtos gerados pelas próprias colecionadoras.
A idealização do BlytheCon no Brasil surgiu através da colecionadora
Flor Dias junto com a colecionadora Samara Flamini que trouxeram para o Brasil
o evento. A vinda do BlytheCon Brasil para Recife foi fruto de um enquete com
os diversos colecionadores de Blythes que escolheram Recife, uma vez que o Sul
já havia sido privilegiado três anos seguidos.
4. O que você espera, como organizadora e como colecionadora, do
Blythecon?
Sandra e uma de suas várias blythes customizadas |
Organizar um evento por mais simples que seja requer comprometimento.
Aceitar ser a anfitriã em Recife e assumir estar a frente da montagem desse
evento é um grande desafio. Busco sempre me guiar pela fala da Flor Dias, que
trouxe o BlytheCon ao Brasil, que é possibilitar um encontro de colecionadores pautado em um
espaço de confraternização sem torná-lo um evento puramente competitivo ou
comercial. A iniciativa de criar o espaço "Tecendo a Rede BlytheCon"
no Facebook, voltou-se para que pudéssemos fazer uma escuta do desejo do grupo
e poder moldar o evento de forma a torna-lo mais próximo do desejado pelo grupo participante.
O BlytheCon por não ser uma instituição, tem na formação da rede de
colecionadores sua motivação para sua continuidade e o evento só existe de fato, se existir essa rede de
amigos.
Quanto ao BlytheCon Brasil em Recife espero que a rede tecida desde
outubro de 2014 através do Facebook, se fortaleça
nesse encontro e que cada participante se veja não apenas como um participante,
mais como um integrante e colaborador do mesmo.
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